RESUMO Na maioria dos estudos o índice de massa corporal (IMC) é usado como a principal medida de avaliação do estudo nutricional. Entretanto, o IMC não apresenta capacidade de diferenciar a gordura corporal da massa muscular. Objetivo: Investigar a associação do estado nutricional e o comprometimento cognitivo na população idosa de Bambuí. Métodos: Participaram do estudo 1496 idosos que responderam simultaneamente as variáveis do estado nutricional e o comprometimento cognitivo (avaliado através do escore do MMSE). As seguintes variáveis: sexo, idade, educação, estilo de vida, ApoE, doenças crônicas, sintomas depressivos, uso de medicamentos hipnóticos e sedativos e incapacidade funcional foram utilizadas como fatores de confusão na regressão logística multivariada. Resultados: O comprometimento cognitivo foi associado com os baixos valores de: IMC (OR: 0.91; CI: 0.86-0.95), circunferência da cintura (OR: 0.97; CI: 0.95-0.99), dobra cutânea triciptal (OR: 0.92; CI: 0.89-0.96) entre os idosos mais jovens (60-69 anos). Enquanto que baixos valores da circunferência (OR: 0.88; CI: 0.80-0.98) e da area muscular do braço corrigida (OR: 0.96; CI: 0.93-0.99) foram associados com o comprometimento cognitivo entre os idosos mais velhos (70 anos ou mais). Conclusão: Existe uma diferença entre a associação das medidas antropométricas e o comprometimento cognitivo após a estratificação por idade. Nos participantes entre 60 a 69 anos, o comprometimento cognitivo foi associado a medidas relacionadas com o tecido adiposo enquanto que no grupo com 70 anos ou mais, o comprometimento cognitivo foi associado a medidas relacionadas com a massa muscular. Esses achados sugerem que a investigação do estado nutricional dos idosos não se deve restringir somente ao IMC, sendo necessário variações devido a idade.

ABSTRACT In most studies, body mass index (BMI) has been used as the main measurement of nutritional status. However, BMI does not differentiate between body fat and muscle mass. Objective: To investigate the association between nutritional status and cognitive impairment in a population of Brazilian elderly. Methods: Participants (n=1,496) from the Bambuí Cohort Study of Aging were selected based on the results for the two variables nutritional status and cognitive impairment (MMSE score). Gender, age, education, lifestyle, ApoE, chronic diseases, depressive symptoms, current use of hypnotic or sedative medication and functional disability were used as confounding factors for adjusting the logistic regression. Results: Cognitive impairment was associated with lower BMI (OR: 0.91; CI: 0.86-0.95), waist circumference (OR: 0.97; CI: 0.95-0.99), triceps skinfold thickness (OR: 0.92; CI: 0.89-0.96) among the younger participants (60-69 years), while lower arm muscle circumference (OR: 0.88; CI: 0.80-0.98) and corrected arm muscle area (OR: 0.96; CI: 0.93-0.99) were associated with cognitive impairment among the older participants (70 years and over). Conclusion: There was a difference of association between anthropometric measures and cognitive impairment after stratifying by age group. In the group aged between 60 and 69, cognitive impairment was associated with measures related to fat mass, while in the group aged over 70, cognitive impairment was associated with measures related to muscle mass. This finding suggests that investigation of nutritional status in the elderly using anthropometric measures should not be restricted only to the use of BMI, and should also, differ according to age.

OBJECTIVE: Despite the vast scientific literature on the social determinants of health, there is still a debate on the extent to which this relationship remains in old age. The objective of this study was to examine the association between socioeconomic circumstances and health among older adults in a small town in Brazil. METHODS: The study was carried out in Bambuí, a town of around 15 000 inhabitants that is located in the state of Minas Gerais, which is in southeastern Brazil. From 1 177 residents aged 65 years or older, 1 074 of them (91.2%) were interviewed and 997 (84.7%) were examined (physical measurements and blood tests). Those in the lowest third of the distribution of total household monthly income, with an income of less than US$ 240 per month, were compared with those who had an income above that level. RESULTS: Lower family income was independently associated with: (1) some lifestyle risk factors (less consumption of fresh fruits or vegetables and less frequent exercise during leisure time in the preceding 30 days), (2) several indicators of worse health status (General Health Questionnaire score, self-rated health, self-rated visual acuity, level of difficulty in walking 300 meters, inability to perform routine activities because of a health problem in the preceding 2 weeks, and seropositivity for Trypanosoma cruzi), (3) a higher number of nonprescribed medications used in the preceding 3 months, and (4) a higher number of hospitalizations in the preceding 12 months. Obesity was more frequent in the higher-income group. CONCLUSIONS: The results of this study do not confirm observations in some developed countries of a lack of association between socioeconomic status and health among the aged. Our results showed that a small difference in monthly family income was sufficiently sensitive to identify elderly persons in worse health, even within a community that appears to be uniformly poor.

OBJETIVOS: A pesar de la abundante bibliografía científica existente sobre los determinantes sociales de la salud, aún se debate hasta qué punto esa relación se mantiene durante la edad avanzada. El objetivo de este trabajo fue examinar la asociación entre la situación socioeconómica y la salud en adultos mayores de una pequeña localidad de Brasil. MÉTODOS: El estudio se llevó a cabo en Bambuí, una ciudad de alrededor de 15 000 habitantes ubicada en el estado de Minas Gerais, en el sudeste brasileño. De los 1 177 residentes de 65 años de edad o más, 1 074 (91,2%) fueron entrevistados y a 997 (84,7%) se les realizaron mediciones antropométricas y análisis de sangre. Se comparó a las personas ubicadas en el tercio más bajo según la distribución de los ingresos mensuales totales de su núcleo familiar -con ingresos mensuales inferiores a US$ 240,00- con las que tenían ingresos superiores. RESULTADOS: Los ingresos familiares inferiores estuvieron asociados de manera independiente con: 1) algunos factores de riesgo en el estilo de vida (menos consumo de frutas o vegetales frescos y ejercicios menos frecuentes en el tiempo libre durante los 30 días previos a la entrevista), 2) peor estado de salud según varios indicadores (puntuación en el Cuestionario General de Salud, autovaloración del estado de salud y de la agudeza visual, grado de dificultad para caminar 300 metros, incapacidad para realizar las actividades cotidianas debido a problemas de salud en las 2 semanas previas y seropositividad a Trypanosoma cruzi), 3) uso de un mayor número de medicamentos no prescritos en los 3 meses anteriores, y 4) mayor número de hospitalizaciones en los 12 meses previos a la entrevista. La obesidad fue más frecuente entre las personas del grupo de mayores ingresos. CONCLUSIONES: Contrario a lo observado en algunos países desarrollados, se encontró correspondencia entre la situación socioeconómica y el estado de salud de los adultos mayores. Según nuestros resultados, pequeñas diferencias en los ingresos mensuales de una familia permiten identificar a personas mayores en peor estado de salud, aun dentro de una comunidad que parece tener un nivel uniforme de pobreza.

O uso de questionários tem sido recomendado para identificar, a baixo custo, indivíduos sob risco para a esquistossomose. Neste estudo, a validade de informações obtidas por questionário para rastreamento da infecção pelo Schistosoma mansoni foi examinada em quatro comunidades, situadas em Minas Gerais, Brasil. As variáveis independentes foram motivos de contatos com águas, caracte-rísticas sócio demográficas e história de tratamento para esquistossomose. Entre os 677, 1474, 766 e 3290 indiví-duos elegíveis para a realização de exame de fezes em cada comunidade, 89 a 97% participaram do estudo. As proba-bilidades estimadas dos indivíduos estarem infectados, se eles possuissem todas as características associadas à infecção na análise multivariada, foram 15% em Canabrava, 42% em Belo Horizonte, 48% em Comercinho e 80% em São José do Acácio. Nossos resultados não confirmam a hipótese de que um mesmo questionário possa ser usado para rastreamento da infecção pelo S.mansoni em diferentes comunidades.

The use of questionnaires has been recommended for identifying, at a lower cost, individuals at risk for schistosomiasis. In this study, validity of information obtained by questionnaire in the screening for Schistosoma mansoni infection was assessed in four communities in the State of Minas Gerais, Brazil. Explanatory variables were water contact activities, sociodemographic characteristics and previous treatment for schistosomiasis. From 677, 1474, 766 and 3290 individuals eligible for stool examination in the communities, 89 to 97% participated in the study. The estimated probability of individuals to be infected, if they have all characteristics identified as independently associated with S.mansoni infection, varied from 15% in Canabrava, to 42% in Belo Horizonte, 48% in Comercinho and 80% in São José do Acácio. Our results do not support the hypothesis that a same questionnaire on risk factors could be used in screening for S.mansoni infection in different communities.

Foi feita uma avaliação do programa de controle da esquistossomose (PCE/PCDEN) na região da Bacia do Rio São Francisco em Minas Gerais. A área em estudo compreende seis municípios, com 130.000 habitantes e 916 localidades em uma área de 10.722km². As atividades tiveram início em quatro municípios entre 1983 e 1985 e em dois outros em 1987. As principais medidas de controle adotadas foram tratamentos sucessivos com oxamniquine e aplicações de niclosamida em coleções hídricas. A prevalência da infecção pelo Schistosoma mansoni nos primeiros quatro municípios, que inicialmente estava entre 18 e 32%, diminuiu abruplamente após a primeira intervenção (1984/85) e permaneceu em níveis inferiores aos iniciais até a última avaliação realizada (1990/94); tendência semelhante foi observada para a proporção de caramujos infectados. Nestes municípios, a proporção de localidades sem a infecção ou com prevalências inferiores a 5% aumentou em detrimento daquelas com níveis mais altos de prevalência. Nos dois outros municípios, com prevalências iniciais inferiores a 5 %, nãoforam observadas mudanças substanciais nos indicadores endêmicos; a relação custo benefício do programa nos últimos municípios deve ser avaliada e as prioridades redirecionadas para erradicar as áreas focais e prevenir a expansão para áreas indenes. Os autores chamam a atenção para as dificuldades a longo prazo de um programa de controle fundamentado em tratamentos sucessivos. Informações sobre os fatores determinantes da infecção pelo S. mansoni em cada localidade, ou em conjunto de localidades semelhantes, permitiriam a elaboração de medidas complementares ao tratamento mais duradouras e menos dependentes da contínua utilização deste.

An evaluation of the control program on schistosomiasis (PCE/PCDEN) was performed in the region of São Francisco river in Minas Gerais. The study area comprises six municipalities, with 130,000 inhabitants and 916 localities situated in an area with 10,722 km² . The activities initiated in 1983-85 in four municipalities and in 1987 in the other two. The main measures of control were repeated treatment with oxamniquine and use of niclosamide. The prevalence of infection by Schistosoma mansoni in the first four municipalities, that was initially around 18 and 32%, dropped abruptly after the first intervention (1983/85) and remained in levels below the initial ones until the last assessment (1990-94); similar trends were observed for the proportion of infected snails. In these municipalities, the proportion of localities without infection or with prevalence below 5 % increased in relation to those with higher prevalence. In the other two municipalities, with initial prevalence below 5%, there were no substantial changes in S. mansoni prevalence or proportion of infected snails; the cost benefit of the program in these municipalities need to be assessed and the priorities redirected to eradicate focal areas and prevent spread to non infected localities. The authors call attention to the difficulties in the long term of a control program based on repeated treatments. Information on factors associated with S. mansoni infection in each locality, or in groups of similar localities, would allow to develop additional measures to treatment that could last longer and be less dependent on the continuous use of chemotherapy.